05/11/2024

Mancha de bipolaris no milho: sintomas, identificação, impacto econômico e manejo

Foto: divulgação 
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Silagem de Milho

Com grande potencial de prejuízos para a cultura do milho, a mancha de bipolaris – causada pelo fungo Bipolaris spp. – requer atenção dos produtores. Nas lavouras brasileiras, foram encontradas diferentes espécies do fungo, das quais se destacam com predominância Bipolaris maydis e Bipolaris zeicola

As condições ideais para a infecção do fungo no milho incluem a presença de água livre na superfície das folhas, temperatura e umidade elevadas, presença do patógeno e hospedeiros suscetíveis. Sob essas condições, a germinação dos esporos e a penetração nos tecidos foliares podem ocorrer em até seis horas.

Além disso, a possibilidade de cultivar milho em diferentes épocas no Brasil aumenta a incidência de doenças no campo, devido à presença constante de fontes de inóculos que sobrevivem nos resíduos culturais infectados após a colheita.

Estratégias efetivas de manejo da doença buscam a contenção do inóculo primário a partir da inviabilização ou erradicação dele. Importante levar em conta que a doença é policíclica e tem elevado potencial de disseminação. Saiba mais sobre a mancha de bipolaris, impactos e formas de combate abaixo. 

Registros no Brasil

A mancha de bipolaris é uma doença grave registrada em regiões de clima tropical, quentes e úmidos, com perdas que podem superar 70% da produção. No Brasil, os primeiros casos de epidemias foram registrados nas principais regiões produtoras de milho safrinha: Centro e Norte.

Trabalhos de monitoramento de doenças detectaram elevada severidade da mancha de bipolaris em alguns estados brasileiros, especialmente em latitudes altas (Sul e Sudeste), inclusive nos cultivos de verão (Imagem 1). Essas ocorrências têm chamado atenção e demandam pesquisas para identificar a raça ou as raças prevalecentes, bem como as condições que têm propiciado o aumento na gravidade da doença nessas regiões.

B. maydis apresenta três principais raças: T, O e C (esta última, de maior prevalência). Já a B. zeicola possui as raças numeradas de 1 a 5, sendo 1 e 3 as principais.


Imagem 1 - Sintomas de mancha de bipolaris do milho observados em Chapecó/SC | Foto: Daian S. Rozzetto

Cenário atual da doença

A crescente suscetibilidade de híbridos de milho ao fungo Bipolaris spp. – aliada ao cultivo em diferentes épocas e locais em condições ambientais que favorecem o desenvolvimento da doença – exige a adoção e reavaliação das estratégias de manejo.

A dependência exclusiva dos fungicidas não é sustentável a longo prazo, especialmente considerando a adaptabilidade dos patógenos e a variabilidade climática. Neste sentido, é necessário investir no desenvolvimento e na adoção de híbridos com resistência genética (Imagem 2), que oferecem uma defesa genética maior. 


Imagem 2 - Híbridos com diferentes resistências genéticas à mancha de bipolaris | Foto: José Madalóz

Além disso, práticas agronômicas, como a rotação de culturas e a escolha cuidadosa das épocas de plantio, devem ser integradas ao manejo com o objetivo de diminuir a pressão do patógeno. Somente através da combinação entre resistência genética, práticas agronômicas eficientes e uso criterioso de produtos fitossanitários será possível assegurar a sustentabilidade e a produtividade da cultura do milho, frente à ameaça da mancha de bipolaris.

Infecção, sintomas e ciclo

O fungo Bipolaris spp. é necrotrófico, o que significa que persiste nos restos culturais na forma de micélio e esporos. Estes, possuem elevado potencial de contaminar lavouras vizinhas e cultivos subsequentes, quando as condições ambientais forem favoráveis (ciclo primário). Geralmente, os sintomas iniciais são observados nas folhas próximas ao solo, no “baixeiro” (Imagem 3). Sabe-se, neste sentido, que a sobrevivência do fungo se dá em restos culturais infectados.


Imagem 3 – As lesões da bipolaris podem ser observadas nas folhas do “baixeiro” da planta de milho | Foto: Fernando Zanatta

Os sintomas da mancha de bipolaris são variáveis, dependendo do genótipo e das raças do fungo que estejam em ação. Portanto, as características visuais dos sinais da doença podem ser facilmente confundidas. A coloração pode ser púrpuro-avermelhada ou castanho-amarelada, além do centro tornar-se amarelado a cinza, com margens amareladas. Posteriormente, com a frutificação do fungo, a lesão torna-se cinza escura ou preta, enquanto a folha adquire um aspecto de queima (Imagem 4).


Imagem 4 – Variação das lesões em função da resposta dos genótipos às distintas espécies de bipolaris | Foto: Daian S. Rozzetto

O fungo é policíclico, gerando vários ciclos de infecção do patógeno por ciclo do hospedeiro (milho). Os conídios (estrutura de disseminação do fungo), uma vez depositados na superfície das folhas, germinam. Por via de tubos germinativos, penetram diretamente nos tecidos foliares ou exploram aberturas naturais, como os estômatos ou lesões físicas.

Após a penetração dos tubos germinativos, o micélio do fungo invade as células do parênquima. Esse processo resulta na formação de lesões foliares, ocasionando a formação dos conidióforos.

Estas lesões, por sua vez, produzem novos conídios, que têm a capacidade de infectar outras folhas ou plantas saudáveis, sendo disseminadas pelo vento e respingos de gotas de chuva carregados com solo e material contaminado. O patógeno, assim, realiza diversos ciclos secundários (sendo policíclico) com elevado potencial de disseminação e contaminação (Figura 1).

Ciclo do Bipolaris spp.


Figura 1 – Ciclo do fungo Bipolaris spp. | Fonte: Life cycle Pioneer USA, adaptado por José Madaloz

Danos à produtividade

Estudos recentes e observações de campo apontam que a bipolaris pode ocasionar perdas superiores a 70% na produtividade, em condições extremas. Isso porque severas infecções de Bipolaris spp. ocasionam redução drástica e precoce da área fotossintética do milho, afetando negativamente no acúmulo e remobilização dos fotoassimilados para os grãos (Imagem 5).

Buscando conter o avanço da infecção, o metabolismo das plantas é alterado: o estresse ocasionado pelo patógeno gera demanda metabólica, forçando as plantas a gastarem parte de suas reservas nutricionais no enfrentamento da doença. Por consequência, há redução na produtividade. 

A perda prematura das folhas das plantas também pode ocasionar o enfraquecimento do colmo, devido à remobilização de reservas e à entrada de patógenos. Desta forma, acontece o tombamento das plantas de milho de forma indireta.


Imagem 5 – Híbrido de milho sensível e com severos danos de bipolaris; é possível observar a evolução da doença a partir do “baixeiro” | Foto: José Madaloz

Bipolaris e outros patógenos

As mesmas condições que favorecem a bipolaris podem beneficiar, simultaneamente, outros patógenos. Desta forma, é comum identificar lesões de diversos microrganismos na mesma planta (Imagem 6). 


Imagem 6 – Folha de milho apresentando lesões de diferentes doenças: mancha-branca, cercosporiose e bipolaris, simultaneamente (a); e lesões de estria-bacteriana (b) | Fotos: Daian S. Rozzetto e Fernando Zanatta

As lesões causadas pelo Bipolaris spp. frequentemente são confundidas com outras doenças na cultura do milho, como a cercosporiose e a estria-bacteriana. No entanto, a observação atenciosa demonstra as diferenças entre elas. 

As lesões da cercosporiose são delineadas pelas nervuras das folhas, são mais estreitas e têm bordas mais uniformes, enquanto as lesões de bipolaris são irregulares e têm bordas não retilíneas (Figura 2). 

Já na folha com estria-bacteriana, se observa halos amarelos longos, que se estendem de cada extremidade da lesão quando a folha está contra a luz. Essa característica a difere das lesões de cercosporiose e da bipolaris (Imagem 6 - acima). Em caso de dúvida, recomenda-se a avaliação laboratorial para correta diagnose.


Figura 2 - Diferenciação do formato da bipolaris (a) e cercosporiose (b) | Fonte: Fundação ABC, 2011, adaptado por Fernando Zanatta

Estratégias de manejo

As estratégias mais efetivas de manejo da doença visam a contenção do inóculo primário, a partir da inviabilização ou erradicação dele, bem como na redução da velocidade de multiplicação e disseminação. Considera-se, neste sentido, que a doença é policíclica e tem elevado potencial de disseminação e dano, após a infecção. Portanto, um manejo eficaz de bipolaris deve compreender:

  • adoção de um programa efetivo de rotação de culturas, visando a diminuição da fonte de inóculo;
  • conhecimento e monitoramento das condições ambientais que favorecem o patógeno, a fim de realizar aplicações antecipadas de fungicidas; 
  • aplicações antecipadas (V5/V6) em híbridos de milho suscetíveis – medida que tende a ser eficiente. A perda precoce do terço inferior das plantas permite a disseminação livre do patógeno: essa prática ajuda a reduzir o inóculo inicial do fungo, prevenindo problemas maiores durante a fase reprodutiva;
  • utilização de híbridos de milho com maior tolerância genética ao patógeno (Imagem 7);
  • uso de fungicidas efetivos no controle do patógeno, associado à correta tecnologia de aplicação e intervalos de aplicação adequados para manter a proteção foliar;
  • adoção de tratamento de sementes com fungicida, a fim de proteger as plântulas;
  • cultivar sob boas práticas agronômicas, em condições nutricionais adequadas de fertilizações.


Imagem 7 – Diferença de tolerância à mancha de bipolaris entre híbridos | Foto: Fernando Zanatta

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Referências 

Mancha-de-Bipolaris-do-Milho, Circular Técnica 207, ISSN 1679-1150, Embrapa Sete Lagoas, MG Dezembro, 2014.

DA SILVA, DAGMA DIONÍSIA; COTA, LUCIANO VIANA; DA COSTA, RODRIGO VÉRAS. Como manejar doenças foliares em milho. Embrapa Milho e Sorgo. Artigo em periódico indexado (ALICE), 2020.

MUNKVOLD GP, WHITE DG (Eds.). Compendium of corn diseases. St. Paul, MN: APS Press 2016, 165v

Autores: Fernando Zanatta e Daian Rozzetto (Agrônomo de Campo Pioneer) e José Madaloz (Gerente de Agronomia Pioneer).