Gestão da colheita na cultura do milho
Colheita de lavoura de milho, Xanxerê/SC | Foto: José Madalóz.
Colheita de lavoura de milho, Xanxerê/SC | Foto: José Madalóz.
O período de colheita, assim como as demais fases de condução e desenvolvimento da cultura do milho, é de suma importância no rendimento final da lavoura. Falhas de acompanhamento do ponto ideal de colheita, acompanhamento climático, logística de entrega do grão, mau dimensionamento de maquinário e, principalmente, atrasos de colheita e má regulagem de colhedoras podem comprometer a expectativa do rendimento.
Um rigoroso acompanhamento da lavoura, revisão e pré-ajustes das máquinas colhedoras (deixando-as prontas de forma antecipada ao início da colheita) e preparação da logística de entrega do grão (graneleiros, caminhões, moegas e silos) se tornam imprescindíveis.
Na maturação fisiológica, também chamada de estágio R6, a umidade do grão é de aproximadamente 35-36%. Os grãos são considerados maduros fisiologicamente e, neste ponto, alcançaram seu peso máximo seco. A linha de leite, ou camada de amido duro, avançou até a ponta do grão. As células na ponta do grão perdem a sua integridade e rompem, causando a formação de uma camada de abscisão marrom a preta, comumente mencionada como “camada preta” (Figura 1).
Depois que a camada preta se forma, o amido e a umidade não podem mais entrar ou sair do grão, com exceção da perda de umidade através da evaporação. A formação da camada preta avança da ponta da espiga até a base. Se a planta de milho morrer prematuramente (antes da maturidade fisiológica), a camada preta ainda se forma, mas pode demorar mais, reduzindo a produção.
Após a maturidade dos grãos, a taxa de secagem está fortemente ligada à temperatura do ar (GDU – Unidades de Grau Dia), movimento do ar, umidade relativa e teor de umidade do grão. Pós-maturidade, os grãos entre 35 e 25% de umidade requerem menos GDUs por ponto/dia; entre 25 e 20%, em geral, é necessário mais GDUs por ponto/dia, o que torna a secagem a campo mais lenta.
Características dos híbridos que afetam o dry down:
O ponto de colheita interfere na qualidade do processo. Híbridos que apresentam quebramentos de plantas tendem a apresentar perdas durante a colheita - pela impossibilidade de recolhimento de algumas espigas caídas -, e apodrecimento de grãos e espigas. Assim, quanto antes a colheita acontecer mais seguro e com menor potencial de perdas será o processo.
O monitoramento mais frequente da lavoura deve ocorrer de duas a três semanas antes da previsão de colheita. Caso mais de 10 a 15% de plantas apresentem problemas de colmo, como podridões, deve-se considerar a antecipação de colheita.
Outros híbridos apresentam maior dificuldade no desprendimento dos grãos do sabugo e requerem melhor regulagem da máquina para efetuar a trilha completa. Atrasar a colheita desse tipo de material pode dificultar ainda mais a debulha, sendo recomendada a colheita de forma mais antecipada para garantir uma debulha mais eficiente.
Para mensurar os riscos e efeitos no atraso da colheita, a equipe de agronomia da Pioneer® conduziu trabalhos na safra verão 2022/23 nos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com híbrido de ciclo hiperprecoce. O objetivo foi verificar a perda da umidade evaporativa e impactos no peso e na qualidade de grãos, além do efeito da exposição na integridade de plantas em diferentes híbridos, regiões, ambientes e manejos.
Os resultados mostraram que após a maturação fisiológica (R6), a perda de umidade foi em média de 0.3% (R2 0.51) ao dia (Figura 2A). Foi verificada redução no PMG (R2 0.41) (Figura 2B). Essa redução do peso dos grãos é chamada de “perda fantasma do rendimento” (phantom yield loss), podendo estar associada primeiramente à redução da matéria seca devido à “respiração do grão”.
Em relação aos grãos avariados, a cada dia um aumento na média 0,20% (R2 0.59) no valor. Na avaliação de integridade de plantas (quebramento), a incidência pelo atraso de colheita foi um acréscimo de 0,58% (R2 0.95) na média ao dia (Figura 3). O maior tempo de permanência das plantas e grãos no campo, já aptos à colheita, os expõe a variações climáticas (chuva, vento) e à ação de patógenos presentes no meio. Por isso, recomenda-se a colheita do milho assim que estiver apto.
Na safrinha 2023, no Paraná, foram conduzidos ensaios com o mesmo objetivo, sendo utilizados seis híbridos com ciclo superprecoce.
A perda de umidade foi em média de 0.3% ao dia (R2 0.62), igual ao observado nos trabalhos da safra verão. No entanto, a redução do PMG foi maior, quase 0.5% ao dia (R2 0.58) (Figura 5A). A integridade de plantas, medida através do percentual de plantas acamadas e quebradas, teve um acréscimo de aproximadamente 0.4% ao dia até os 20 dias após R6; posteriormente, intensificou-se para 2.5% ao dia (Figura 5B). É importante salientar que a safrinha 2023 do PR sofreu um atraso de semeadura, o que resultou no maior período de exposição do milho no campo e em estação de inverno.
Regular adequadamente a colhedora requer conhecimento prático, teórico e perícia por parte do operador ou quem mais estiver envolvido no processo.
A regulagem difere bastante em praticidade e ajustes possíveis e adequados, porém, em todas as máquinas os componentes de trilha são responsáveis por garantir a debulha completa das espigas. A eficiência e eficácia desses componentes dependem, dentre outros fatores, da velocidade de deslocamento da máquina, velocidade do cilindro/rotor, abertura do côncavo e regulagem das peneiras de ventilação. Considerando, é claro, que esses componentes estejam revisados e em boas condições.
A velocidade de deslocamento da máquina deve estar em torno de 4,5 a 6,0 km/h; a rotação do cilindro ou rotor deve estar em uma faixa entre 400 e 460 rpm; e a abertura do côncavo deve ser de 23 mm. Adequar esses ajustes para cada situação de colheita é imprescindível para que a trilha seja perfeita.
Em alguns casos, os híbridos podem ser difíceis de serem debulhados devido à condição da planta que não completou adequadamente a fase final de ciclo, à morte prematura ou a características do próprio material (Figura 6). Nessas situações, é possível usar o côncavo de trigo para melhorar a debulha.
Ajustar a rotação mais alta do cilindro ou rotor também pode ajudar no processo de debulha (Figura 7). Deve-se ter um cuidado especial para evitar quebramentos excessivos e, assim, descontos e perdas no armazenamento. A ventilação deve ser muito bem ajustada para a limpeza final da massa de grãos colhida. Ajustando adequadamente, evita-se perdas de grãos mais leves e o transporte e armazenamento de impurezas.
As perdas podem ser classificadas em: pré-colheita, decorrentes da exposição ao campo antes da colheita; plataforma, para perdas no momento da coleta das espigas; grãos soltos e grãos no sabugo, decorrentes da regulagem da máquina.
Para mensurar as perdas, uma possibilidade é utilizar uma estrutura/armação que envolva a largura da plataforma da colhedora e o comprimento que desejar. Sendo assim, é obtida a determinação da área (sugestão para milho: 2m2). Depois, é feita a coleta dos grãos (soltos ou em espigas), pesa-se e estima-se as perdas por hectare.
Complementar à essa metodologia, a Embrapa desenvolveu um copo medidor que correlaciona o volume com a massa. Isso permite a determinação direta dos valores de perdas e produtividade da lavoura.
Alguns autores e trabalhos citam e indicam perdas “aceitáveis” na cultura do milho na ordem de 60 a 90 kg/ha (entre 1 a 1,5 sc/ha), entendendo que a tendência é que sempre exista perdas, em toda operação de colheita.
Clique AQUI para acessar o Crop Focus em PDF.
Autores: Richard de Mello (agrônomo de campo Pioneer®) e Pergentino de Bortoli (agrônomo de produto Corteva).