Capim-pé-de-galinha e capim-amargoso: manejo e impacto na cultura do milho
Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), à direita, e capim-amargoso (Digitaria insularis), à esquerda, oferecem grande potencial de prejuízos.
Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), à direita, e capim-amargoso (Digitaria insularis), à esquerda, oferecem grande potencial de prejuízos.
Nos últimos anos, o milho se consolidou como uma cultura de destaque na agricultura nacional, impulsionado pela valorização da commodity tanto no mercado interno quanto no externo. A elevação dos preços do grão incentivou os produtores a investirem mais nos tratos culturais, buscando maximizar a rentabilidade por hectare. Esse aumento de investimento abrange a escolha de híbridos de alto potencial produtivo, adubações mais robustas, maior número de aplicações de fungicidas e inseticidas e um controle mais rigoroso de plantas daninhas.
A cultura do milho é altamente responsiva às condições do ambiente inicial de desenvolvimento, com seu potencial produtivo sendo definido até o estágio V5. Além disso, quanto maior o potencial produtivo do híbrido, maior será sua exigência em termos de manejo nos estágios iniciais. Dessa forma, danos causados por insetos, atrasos na adubação e competição com plantas daninhas podem comprometer significativamente a produtividade da lavoura.
Entre as plantas daninhas que mais competem com o milho no início do seu ciclo, o capim-amargoso (Digitaria insularis) e o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) vêm ganhando destaque nos últimos anos. Essas espécies apresentam manejo desafiador devido à alta taxa de proliferação e à resistência múltipla a herbicidas, tornando seu controle mais complexo.
O capim-pé-de-galinha é uma planta anual da família Poaceae, caracterizada pela formação de touceiras densas devido à agressividade do seu sistema radicular e à capacidade de enraizar nos nós quando em contato com o solo úmido. Seu sistema radicular é altamente adaptado a condições adversas, incluindo seca, solos de baixa fertilidade, compactados e encharcados, o que permite à planta competir eficientemente com culturas comerciais em diversos ambientes de cultivo. Sua produção de sementes pode alcançar, em média, 50.000 sementes por planta a cada ciclo, podendo chegar a até 120.000 em condições favoráveis. Atualmente, há registros de resistência múltipla a herbicidas inibidores da ACCase e da EPSP (HEAP, 2025).
O capim-amargoso é uma planta perene da família Poaceae, com alta capacidade de dispersão devido à grande produção de sementes—cerca de 100.000 por ciclo—e à leveza dessas sementes, o que facilita sua propagação pelo vento. A espécie forma touceiras altas, podendo atingir até 1,5 metro de altura. Essa estrutura é sustentada por um sistema radicular profundo e denso, conferindo-lhe elevada resistência a períodos de seca. Além disso, a presença de rizomas e colmos subterrâneos proporciona uma recuperação rápida após estresses, como aplicações de herbicidas e estiagens. Assim como o capim-pé-de-galinha, o capim-amargoso apresenta resistência múltipla a herbicidas inibidores da ACCase e da EPSP (HEAP, 2025).
Em altas infestações, tanto o capim-pé-de-galinha quanto o capim-amargoso têm potencial para reduzir significativamente a produtividade do milho.
Gemelli et al. (2013) observaram uma perda de aproximadamente 35% na produtividade do milho em áreas sem controle de capim-amargoso, quando comparadas a áreas capinadas. Além disso, verificaram uma redução de 13% na produtividade em áreas tratadas com a mistura de glifosato + atrazina em pós-emergência da cultura.
Já sobre capim-pé-de-galinha, dados internos da Pioneer® indicam que, com apenas duas plantas por metro quadrado, a produtividade do milho pode ser reduzida em 18% em comparação à área capinada. Quando a infestação atinge 16 plantas/m², a perda de produtividade chega a 39%. No caso do capim-amargoso, infestações de duas e 16 plantas/m² resultam em reduções de 13% e 27% na produtividade do milho, respectivamente.
Estudando tanto E. indica quanto D. insularis, Souza et al. (2024), ao avaliar o impacto de diferentes níveis de infestação, constatou perdas de produtividade de até 48%, independentemente da severidade da infestação de ambas.
O manejo dessas plantas daninhas no milho deve começar logo após a colheita da soja, quando as plantas sofrem uma roçada pela plataforma das colhedoras, tornando-se mais suscetíveis à ação dos herbicidas. Nesse momento, a aplicação de herbicidas de contato, como glufosinato de amônio, em associação com pré-emergentes à base de S-metolacloro, auxilia no controle das plantas mais velhas e na redução do banco de sementes, favorecendo o estabelecimento inicial do milho.
Em híbridos Pioneer® com as tecnologias PowerCore™ Ultra e Leptra®, o glufosinato de amônio pode ser aplicado também em pós-emergência da cultura, sendo eficaz no controle de plantas rebrotadas da aplicação pré-plantio e de plântulas que escaparam do efeito do pré-emergente. Além disso, a aplicação de Accent® em pós-emergência, para o controle do capim-pé-de-galinha com até dois perfilhos, apresenta alta eficácia e um mecanismo de ação distinto, contribuindo para a rotação de ativos e a mitigação do risco de resistência.
Gemelli et al. (2013), ao avaliar diferentes estratégias de manejo químico no milho para o controle do capim-amargoso, observou, aos 15 dias após a aplicação, um controle de 94,3% com a combinação atrazina + glufosinato de amônio e de 78,8% com a mistura atrazina + Accent®. Aos 60 dias após a aplicação, o tratamento com atrazina + Accent® destacou-se dos demais, sendo o único a alcançar controle superior a 90%.
Mesmo em baixas infestações, o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) e o capim-amargoso (Digitaria insularis) podem causar impactos significativos na produtividade do milho, com perdas variando entre 13% e 18%. Dessa forma, a adoção de estratégias de manejo eficazes é essencial para a manutenção do potencial produtivo da cultura.
O uso das tecnologias PowerCore™ Ultra e Leptra® permite a aplicação de glufosinato de amônio em pós-emergência do milho, tornando-se uma ferramenta importante dentro do manejo integrado de plantas daninhas. A complementação desse controle com Accent® em pós-emergência adiciona um mecanismo de ação altamente eficaz, auxiliando na rotação de ativos e na mitigação do risco de resistência.
Autor: Hugo Sawaris, agrônomo de campo Pioneer®.
Heap I. 2025. International herbicide-resistant weed database. Acesso em 16 de Março de 2025. https://www.weedscience.org
Gemelli, A., Oliveira, R.S., Constantin, J., Braz, G.B.P., Jumes, T.M.C., Gheno, E.A., Rios, F.A., Franchini, L.H.M., 2013. Estratégias para o controle de capim-amargoso (Digitaria insularis) resistente ao glyphosate na cultura milho safrinha. Rev. Bras. Hist. 12, 162–170. http://dx.doi.org/10.7824/rbh.v12i2.201
Souza, M.F., Henckes, J.R., Zobiole, L.H.S., Oliveira, R.S., Braz, G.B.P., Constantin, J., Machado, F.G., Amarante, A.A., Ferreira, C.J.B., 2024. Competitive response of maize against glyphosate-resistant Digitaria insularis and Eleusine indica. Crop Protection. Vol. 183, 106760. https://doi.org/10.1016/j.cropro.2024.106760