25/06/2024

Diferentes estratégias de posicionamento de fungicidas no manejo de antracnose e anomalia das vagens

foto divulgação 
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Planta de milho com pulgão nas folhas

Desde a safra 2019/2020, o estado de Mato Grosso vem sofrendo com a ocorrência da anomalia das vagens na cultura da soja em diferentes regiões, principalmente nos municípios próximos à BR-163. Os sintomas desta doença iniciam a partir da metade do enchimento de grãos (R5.4), caracterizando-se pelo apodrecimento dos grãos e das vagens em geral, observado de dentro para fora das vagens e, em alguns casos, pelo quebramento das hastes próximo ao colo da planta. Diferentes instituições de pesquisa e empresas de melhoramento genético vêm trabalhando na identificação do agente causal desta doença, porém ainda não há um consenso científico. Análises realizadas nas hastes, grãos e vagens com e sem sintomas apontam uma frequência de 50% de ocorrência do complexo de fungos Diaporthe/Phomopsis e 61% do fungo do gênero Colletotrichum, agente causal da antracnose. Na literatura internacional, o que chamamos de Anomalia das Vagens é descrito como Seed Decay, ou seja, Podridão dos Grãos, causada principalmente pelo fungo Diaporthe longicolla/Phomopsis spp. Mesmo assim, a presença dos fungos foi verificada até mesmo em plantas sadias, dificultando a definição correta do agente causal.

Foram realizados dois ensaios na safra 2022/2023, sendo um em Nova Mutum-MT, onde foram utilizadas as cultivares 97Y70CE de ciclo precoce e 98R30CE contemplando um ciclo mais tardio. O outro ensaio foi instalado em Sinop-MT, onde se utilizou a cultivar 98R30CE e uma concorrente suscetível.

Em todos os ensaios, foram avaliadas a severidade de doenças foliares, a incidência de anomalia das vagens e antracnose, além do percentual de grãos avariados na colheita e a produtividade.

TratamentosTabela 1. Lista de tratamentos para cultivar 97Y70CE em Nova Mutum-MT.

Tabela 2. Lista de tratamentos para cultivar 98R30CE em Nova Mutum-MT.

Tabela 3. Lista de tratamentos para cultivar 98R30CE e a concorrente suscetível em Sinop-MT.

Para a avaliação dos danos nas vagens, foram separados aqueles causados pela Anomalia das Vagens e pela antracnose, quantificando-se a incidência de cada uma dessas doenças em uma amostra de dez plantas por parcela. Na Figura 1, está demonstrada a separação das vagens conforme os sintomas característicos de cada condição: Anomalia das Vagens, Antracnose e Abertura das Vagens por efeito do desenvolvimento acelerado.

Figura 1. A- Diferenças entre os sintomas de Anomalia das Vagens, Abertura de Vagens e Antracnose. B- Evolução dos danos de Anomalia das Vagens..

Resultados e Discussões

Na Figura 2, são apresentados os dados de incidência de anomalia e antracnose nas vagens para a cultivar de ciclo precoce 97Y70CE, bem como o rendimento observado nos diferentes tratamentos. Em relação à testemunha (Tratamento 1), os Tratamentos 2 e 3 foram bastante eficientes tanto para o controle de antracnose quanto de anomalia. O Tratamento 2 apresentou uma redução das vagens com anomalia de 83,1%, e o Tratamento 3 de 33,8%. Da mesma forma, para antracnose, o Tratamento 2 apresentou uma redução de vagens com sintomas de 93,9%, e o Tratamento 3 de 84,1%. Ao analisar a produtividade, os Tratamentos 2 e 3 garantiram um aumento em relação ao Tratamento 1 de 7,5 sc/ha e 8,3 sc/ha, respectivamente.

Figura 2. Percentual de vagens com anomalia, vagens com antracnose e produtividade dos tratamentos com a cultivar 97Y70CE no ensaio de Nova Mutum-MT.

Na Figura 3, são apresentados os resultados para a cultivar 98R30CE do ensaio de Nova Mutum. Para esta cultivar, houve maior incidência de anomalia das vagens do que de antracnose. Semelhante ao padrão observado para a cultivar 97Y70CE, os Tratamentos 2 e 3 foram efetivos no controle da anomalia das vagens, sendo o Tratamento 2 o que apresentou maior redução da incidência de anomalia, com 87,1%, seguido do Tratamento 3, com uma redução de 61,4%. Ao analisar os danos de antracnose, a incidência foi reduzida; mesmo assim, o Tratamento 2 entregou uma redução de 64,4%, enquanto no Tratamento 3 não houve diferença em relação à testemunha. Já em termos de produtividade, o Tratamento 3 apresentou o maior incremento em relação ao Tratamento 1, com 8,2 sc/ha, seguido pelo Tratamento 2, com 1,7 sc/ha. A diferença na produtividade neste caso está mais relacionada à eficiência no controle de manchas foliares, o que permitiu ao Tratamento 3 um melhor desempenho.

Figura 3. Percentual de vagens com anomalia, vagens com antracnose e produtividade dos tratamentos com a cultivar 98R30CE no ensaio de Nova Mutum-MT.

Semelhante ao trabalho realizado em Nova Mutum, outro trabalho foi desenvolvido em Sinop – MT, com incremento de novas estratégias de combinações de fungicidas, em sinergia com as iniciativas da equipe de agronomia de Crop Protection da Corteva.

Neste ensaio utilizaram-se diferentes estratégias de combinação dos fungicidas do portifólio da Corteva, contemplando tratamentos com número de aplicações diferenciados, buscando retratar os diferentes cenários encontrados no campo. Além disso, temos dois tratamentos, 6 e 7, com intensificação da proposta do uso de benzovindiflupir nas primeiras aplicações, tanto com Vessarya quanto produtos de outras linhas do mercado, visando entender o efeito dessa molécula no controle da antracnose e também seus possíveis efeitos na redução dos problemas de anomalia das vagens.

Na Figura 4, estão os resultados da cultivar 98R30CE, quanto a eficiência dos tratamentos no controle de antracnose e os efeitos em percentual de grãos avariados e produtividade. Quando comparados ao tratamento 1, testemunha, todos os tratamentos conseguiram reduzir consideravelmente os danos nas vagens por antracnose, sendo que os tratamentos 5 e 6 tiveram os melhores resultados, redução de 84,5% e 79,3% respectivamente, diferindo significativamente dos demais. Quando analisamos o percentual de grãos avariados, a despeito do tratamento 7, os demais não diferiram significativamente entre si, onde os percentuais de grãos avariados variaram de 3,78 a 10,9%. Quanto à produtividade, a aplicação de fungicidas proporcionou aumento de produtividade, tendo o tratamento 7 o maior incremento, 15,8 sc/ha.

Figura 4. Percentual de vagens com antracnose, percentual de grãos avariados e, produtividade dos tratamentos com a cultivar 98R30CE no ensaio de Sinop-MT.

Figura 5. Percentual de vagens com anomalia, percentual de grãos avariados e, produtiviade dos tratamentos com a concorrente suscetível no ensaio de Sinop-MT.

*Médias com letras diferentes diferem entre si pelo teste de Tukey em nível de 5% de significância. 

Seguindo os mesmos tratamentos, a Figura 5 apresenta os resultados para a concorrente suscetível, avaliando os efeitos dos tratamentos no percentual de vagens com anomalia, no percentual de grãos avariados e na produtividade. Para esta cultivar, os melhores resultados foram obtidos com os tratamentos iniciados aos 25 DAE, sendo que o Tratamento 7 apresentou a maior redução na incidência de anomalia das vagens, com 92,5%. Nos Tratamentos 3, 4, 5 e 6, a redução variou de 78% a 81%. Já no Tratamento 2, o desempenho foi inferior, mas ainda assim proporcionou uma redução de 58,3%. Em relação ao percentual de grãos avariados, todos os tratamentos diferiram da testemunha, com redução de 40% a 64% de grãos avariados, sem diferença significativa entre os tratamentos com aplicação de fungicidas.

Neste estudo, os tratamentos com aplicação de fungicidas incrementaram o rendimento, variando de 6,6 sc/ha a 9,2 sc/ha a mais que o tratamento controle, sendo o Tratamento 5 o que apresentou a maior diferença.

Aplicações sequenciais de produtos com benzovindiflupir na primeira (25 DAE) e segunda (40 DAE) aplicações apresentaram os melhores resultados, sendo uma excelente ferramenta para o controle de antracnose e para auxiliar na redução dos danos por anomalia das vagens. Além disso, a antecipação da primeira aplicação para os 25 DAE é fundamental para garantir a melhor eficiência de controle, especialmente para cultivares indeterminadas com período juvenil curto, onde o início do florescimento é bastante precoce. O portfólio da Corteva, com Vessarya, Viovan e Aproach Power, entregou resultados superiores tanto para o controle de antracnose quanto para doenças foliares em geral.

Referências

Trabalho técnico Crop Protection Corteva.

Wruck, D. S. M. et al. Incidência de apodrecimento de grãos e vagens de soja (AVG) em diferentes sistemas de plantio direto. Resumos ... / VI Encontro de Ciência e Tecnologias Agrossustentávies e da XI Jornada Científica da Embrapa.Embrapa, 2022.

Consulta notícia no site da AGROADVANCE. Soja: pesquisa sobre anomalia das vagens e quebramento das hastes avança – Agroadvance. Acesso em 15/06/2023.

Li S. Phomopsis seed decay of soybean. In: Sudaric A., editor. Soybean – Molecular Aspect of Breeding. Intech Publisher; Viena, Austria.: 2011. pp. 277 – 292.

Autor: Érica Moreira, Núbia do Carmo Santos, Ana Langaro, Rafael Rech, Juliano Andrade, Marcelo Mocheti. Field Agronomy Seeds & Crop Protection

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