Sorgo granífero: práticas para implantação da cultura

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Introdução

A cultura do sorgo vem crescendo nos últimos anos no Brasil, principalmente no período da safrinha. O cereal é o quinto mais produzido em todo o mundo, atrás apenas de trigo, arroz, milho e cevada. Amplamente utilizado na dieta alimentar humana na forma de farinhas em países da África, da Ásia e da América Central, também tem importância energética como ingrediente da alimentação animal nos Estado Unidos, na Austrália e na América do Sul. Além disso, o sorgo é um componente da produção de bioetanol. Existem, basicamente, 4 tipos de sorgo: sorgo granífero, sorgo sacarino, sorgo vassoura e sorgo forrageiro. Neste post vamos focar em práticas para a implantação de sorgo granífero, trazendo um pouco de suas características, condições ideais de solo, temperatura, semeadura, adubação e nutrição, soluções de controle de plantas daninhas, de pragas e de doenças que afetam a cultura. 

Características do sorgo granífero

 

O sorgo possui características xerófilas e bastante tolerância à seca. Pertence ao grupo de plantas C4 e é uma cultura 100% mecanizável. O sorgo granífero (imagem 1) possui porte de planta baixo, podendo chegar a até 170 centímetros. Desenvolve uma panícula pequena de grãos. Após a colheita, a planta de sorgo, ainda verde, também pode ser utilizada como feno ou pastejo.

Imagem 1: sorgo granífero

De maneira geral, o sorgo é bastante resistente e possui boa adaptação no Brasil, onde seu cultivo é realizado de maneira semelhante a de outros cereais. 

Mas, para implementar a cultura e atingir bons resultados em produtividade, alguns pontos devem ser levados em consideração. Vamos a eles!

1. Condições ideais de solo e temperatura

O sorgo é uma planta bastante resistente a altas temperaturas, se desenvolvendo, inclusive, em condições consideradas desfavoráveis para o cultivo de outros cereais. Por esta característica, se adapta facilmente a locais áridos e com escassez de chuva, suportando altos níveis de radiação solar. O sorgo também costuma se adaptar a temperaturas mais amenas, desde que ocorra na região uma estação quente para propiciar seu desenvolvimento. A temperatura ideal varia de acordo com cada cultivar, mas, geralmente a planta se desenvolve bem com, no máximo, 38°C e, no mínimo, 16°C. A maior produtividade do sorgo se dá em solos ricos em matéria orgânica, que contam com boa drenagem, acidez corrigida, umidade média e topografia plana. Por outro lado, também é capaz de se adaptar a variados tipos de solo, desde argilosos até arenosos. A única ressalva é que o sorgo não deve ser cultivado em solos com drenagem não satisfatória.

2. Semeadura

Tanto o plantio quanto o cultivo e a colheita do sorgo podem ser realizados com o mesmo maquinário usado para soja, arroz, trigo, ou outros grãos. Falando especificamente da semeadura, ela deverá ser feita pelo processo convencional, com o solo arado, gradeado, desterroado e nivelado, ou direto na palha, com a deposição de fertilizante e semente. O padrão federal brasileiro para a semente do sorgo considera, no mínimo, 75% de poder germinativo. Apesar disso, algumas marcas optam por 80%. É importante solicitar o boletim de análise do fabricante quanto ao padrão de qualidade da semente, bem como a densidade e população da planta, para garantir a correta regulagem do maquinário de plantio. 

3. Adubação e nutrição

Para um sistema de produção funcionar precisamos que os componentes da nutrição, adubação e fertilidade do solo estejam em sintonia. Para que esse objetivo seja alcançado é preciso utilizar um conjunto de ferramentas de diagnose de possíveis problemas nutricionais. Assim, a chance de sucesso na cultura do sorgo aumenta consideravelmente. Para planejar o cultivo dessa cultura é preciso estar atento aos seguintes aspectos:

  • expectativa de produção; 
  • quais nutrientes serão considerados; 
  • diagnose adequada dos problemas (para isso será necessário realizar análise do solo e histórico de calagem e adubação das glebas); 
  • quais as quantidades de Fósforo (P) e Potássio (K) necessárias na semeadura (isso será determinado pela análise do solo e necessidades da cultura); 
  • qual a fonte, quantidade e quando aplicar Nitrogênio (N) (sempre levando em consideração a produtividade desejada); 
  • quais são os outros fatores agronômicos recomendados, como espaçamento, densidade de plantas, híbridos, disponibilidade de água, etc. 

O requerimento nutricional está diretamente ligado ao potencial de produção da cultura. No quadro 1, estão dados sobre a extração de nutrientes pelo sorgo.

Quadro 1. Extração média de nutrientes pela cultura do sorgo em diferentes níveis de produtividades. Fonte: Pitta et al. (2001) e Fribourg et al. (1976).

 

Depois de determinada a necessidade de fertilizantes no plantio do sorgo, é preciso estar ciente da absorção e acumulação de nutrientes nas diferentes fases de desenvolvimento da cultura. Isso trará mais eficiência e melhores resultados.

A planta de sorgo demonstra intensa absorção em diferentes estádios. No período de desenvolvimento vegetativo (V7 a V12) e na fase reprodutiva ou de formação dos grãos, quando o potencial produtivo é alcançado, até chegar ao florescimento, P, N e K serão absorvidos em 60, 65 e 80% do requerido, respectivamente. 

 

4. Controle das plantas daninhas

O manejo integrado para controle de plantas daninhas deve ser previsto para evitar reduções na produção de sorgo.

Estima-se que se não houver ações contra plantas daninhas durante as primeiras quatro semanas após a emergência do sorgo, é possível ter perdas de 35%. E se não for realizada nenhuma metodologia de controle, esse número sobe para 71%.

A prevenção é uma das melhores soluções para lidar com plantas daninhas. As medidas preventivas podem começar pelo uso de sementes de qualidade e com garantia de boa procedência.

Também é indicada a limpeza de máquinas e equipamentos para uso entre campos, e a interrupção do ciclo reprodutivo de plantas invasoras nos arredores da cultura.

Outra possibilidade, é adotar o método cultural de controle, que prevê a redução de espalhamento entre as fileiras de plantio, o uso de coberturas mortas, maior densidade de semeadura, plantio em época adequada e adoção de diferentes sistemas de rotação.

O controle químico é umas das soluções mais eficientes para o combate de plantas daninhas na cultura de sorgo. Desta forma, é importante levar em consideração o tipo de herbicida recomendado para cada cultivar, pois existem tanto produtos específicos para uso na cultura de sorgo granífero, quanto para sorgo sacarino e forrageiro. 

5. Principais pragas da cultura do sorgo

Assim como em qualquer outra cultura, o sorgo também pode sofrer com o aparecimento de pragas. As mais frequentes são:

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)

A lagarta-do-cartucho é umas das mais conhecidas pragas da cultura do sorgo. Os danos da lavoura acontecem devido a redução da área foliar, o que pode acarretar em enormes perdas de produtividade.

  • Métodos de controle: é recomendada a pulverização com inseticidas, com o intuito de alcançar o interior do cartucho da planta. Os níveis de manejo são parecidos com os do milho.

Lagarta-elasmo (Elasmopalpulus lignosellus)

A lagarta elasmo não aparece com tanta frequência, mas sua presença aumenta bastante a capacidade de destruição em uma janela breve de tempo. Os danos dessa lagarta estão ligados a estiagem logo após o aparecimento das plantas. 

  • Métodos de controle: o tratamento de sementes com inseticidas é indicado. O sucesso do controle pode ser comprometido em decorrência de circunstâncias de estresse hídrico, conforme a pressão da praga.

Broca-do-colmo (Diatraea saccharalis)

Se o aparecimento da broca-do-colmo for no período inicial da cultura, os prejuízos são conhecidos como “coração morto” e são comparados aos da lagarta-elasmo. Nas demais fases da cultura, ela pode ocasionar o tombamento das plantas e seus sintomas são também conhecidos como pescoço-de-ganso.

  • Métodos de controle: tratar as sementes pode ser a melhor opção, pois assim, o agricultor consegue proteger a planta na fase inicial de desenvolvimento. A destruição dos restos da cultura auxilia na diminuição da infestação.

Helicoverpa spp.

A postura é realizada durante a época de florescimento e as lagartas se alimentam dos grãos no início de sua formação, o que acarreta danos diretos na produtividade.

  • Métodos de controle: o recomendado é fazer pulverizações quando atingir níveis de controle (média de duas lagartas por panícula).

Pulgão-verde

O pulgão-verde é uma praga que pode causar danos à cultura desde a emergência das plantas até a maturação dos grãos. Sejam as ninfas ou os adultos, os pulgões sugam a seiva das folhas e inserem toxinas que geram o bronzeamento e morte, tanto da parte atingida como de toda a planta. Os adultos, em especial os alados, podem servir como vetores do mosaico da cana-de-açúcar, e gerar prejuízos significativos ao sorgo.

  • Métodos de controle: os danos do pulgão-verde dependem diretamente do suprimento de água da cultura, densidade populacional e do seu estádio de desenvolvimento. A alternativa de tratamento inclui inseticidas seletivos para seu controle.

6. Principais doenças na cultura do sorgo

Algumas doenças podem afetar a cultura do sorgo, e consequentemente limitam sua produção. Condições climáticas, ambientais e a região são variáveis que afetam o aparecimento das doenças. Dentre as principais doenças no sorgo, podemos citar:

Antracnose (Colletotrichum sublineolum)

A antracnose (imagem 2) é a principal doença de sorgo no Brasil, presente em todas regiões produtoras. A disseminação dos conídios acontece através da chuva e do vento. Existem em torno de 121 raças do fungo. O período latente é entre 5 e 12 dias, em temperatura entre 25°C e 30°C, em dias quentes e úmidos. 

Imagem 2. Folhas de sorgo em diferentes fases da antracnose. 

  • Manejo ideal: tolerância genética, rotação de cultivares, rotação de culturas, destruição dos restos culturais e controle químico.

Ferrugem (Puccinia purpurea)

A disseminação da ferrugem (imagem 3) se dá através do vento. O período latente é entre 10 e 14 dias. A temperatura propícia é entre 22°C e 30°C, e é favorecida por umidade alta ou presença de orvalho. Essa doença tem a possibilidade de sobrevivência em hospedeiros alternativos.

Imagem 3. Ferrugem 

  • Manejo ideal: tolerância genética e controle químico.

Helmintosporiose (Exserohilum turcicum)

A helmintosporiose (imagem 4) é uma doença que pode ser facilmente encontrada em regiões onde se cultiva sorgo. A disseminação dos conídios acontece através do vento e da chuva, a longas distâncias. A temperatura propícia é entre 18°C e 27°C e com presença de orvalho.

Imagem 4. Turcicum

  • Manejo ideal: tolerância genética, rotação de culturas, eliminação hospedeiros alternativos e controle químico. 

Ergot (Claviceps africana)

As condições ideais para aparecimento do ergot (imagem 5) são temperaturas abaixo de 16°C, e há maior severidade quando a umidade relativa do ar é maior que 80%. A infecção ocorre durante a fase da antese. Passados cinco dias da polinização, a doença não ocorre mais. 

Imagem 5. Ergot 

  • Manejo ideal: utilizar híbridos com maior nota de pólen. Na época de plantio, evitar florescimento em períodos com temperaturas mais baixas e contar com a utilização de fungicida para proteção das flores (tebuconazole).

Míldio (Peronosclerospora sorghi)

O míldio é uma doença que possui ampla faixa de adaptação climática, sendo a mínima 10ºC, e a ótima 18ºC. Os conídios possuem um papel importante na disseminação dentro da área e sobrevivem por curto tempo. Os oósporos sobrevivem por até 25 anos no solo.

  • Manejo ideal: tolerância genética, aração profunda, sementes sadias, rotação de culturas, controle químico e eliminação de hospedeiros alternativos. 

Podridão seca do colmo (Macrophomina phaseolina)

Altas temperaturas e baixa umidade do solo após o florescimento são os fatores que predispõem as plantas à infecção por Macrophomina phaseolina.

  • Manejo ideal: a utilização de cultivares tolerantes ao acamamento, tolerantes à seca e não senescentes, pode reduzir as perdas causadas pela podridão seca do colmo, bem como, a utilização de níveis adequados de N e K, e a manutenção de níveis adequados de umidade no solo a partir do florescimento. 

Manejo de doenças no sorgo

Veja no quadro 2 as doses e fungicidas utilizados no manejo de doenças na cultura do sorgo.

¹ P.C. = Produto concentrado / *Adicionar óleo mineral 0,5% do volume de calda. Quadro 2. Fungicidas e doses para o manejo de doenças na cultura do sorgo. Fonte: Embrapa, 2014

A fase de aplicação dependerá da pressão da doença e do tipo. De maneira geral, o momento ideal para aplicação de fungicidas no sorgo é o emborrachamento.

7. Colheita

    Para obter um resultado final de qualidade na hora da colheita do sorgo, toda a cadeia produtiva – o que envolve desde a implantação da cultura até o transporte, secagem e armazenamento – deve ser bem planejada e executada.

    Dentro desse processo, o sorgo se destaca por resistir bem à etapa de armazenamento, mantendo a qualidade por um longo período.

    A definição do momento mais adequado para a colheita está atrelada ao tipo de cultivar e à finalidade para a qual o sorgo será utilizado.

 

  • Se o objetivo for a colheita de grãos, o ideal é estar entre 14 e 17% de umidade com secagem artificial, ou entre 12 e 13% com secagem natural.
  • Nos casos de sorgo para ensilagem, o ponto mais acertado da colheita é quando a planta atinge, no mínimo, 30% de matéria seca.
  • Para o produtor que deseja fazer o corte verde, o indicado é que a planta atinja o estádio de emborrachamento ou tenha se passado de 50 a 55 dias da semeadura.
  • Se o objetivo for pastejo e fenação, o momento mais adequado para colheita é quando a planta está com altura entre 80 e 100cm ou tenha se passado de 30 a 40 dias da semeadura.
  • E, por fim, para utilizar o sorgo como cobertura morta, a colheita deverá ser realizada quando a planta atingir cerca de 150 cm de altura.

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*Artigo publicado originalmente em 19 de fevereiro de 2019, no blog da Pioneer Sementes.

Sobre o autor

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa. Possui experiência em desenvolvimento de produtos e em coordenação de equipes de agronomia. Desde 2004 trabalha em grandes empresas do setor agrícola. Atualmente é Agrônomo de Produto Área Leste na Corteva Agriscience™, onde desenvolve atividades voltadas para o desenvolvimento de novos produtos de milho, soja e sorgo.

Referências

CULTIVO DO SORGO. Sistema de Produção Embrapa. Disponível em spo.cnptia.embrapa.br. Acesso em 01/08/2018.


PITTA, G.V.E.; VASCONCELLOS, C.A.; ALVES, V.M.C. Fertilidade do solo e nutrição mineral do sorgo forrageiro. In: CRUZ, J.C.; PEREIRA FILHO, I.A.; RODRIGUES, J.A.S; FERREIRA, J.J. (eds.). Produção e utilização de silagem de milho e sorgo. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2001. Cap.9. p.243-262.


FRIBOURG, H.A., W.E. BRYAN; G.M. LESSMAN; D.M. MANNING. Nutrient uptake by corn and grain sorghum silage as affected by soil type, planting date, and moisture regime. Agronomy Journal, 68: 260 – 263, 1976.