Soluções de controle para nematoides

Escrito por: Renata Souza
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Imagem de nematoides

Introdução

Todas as espécies de plantas cultivadas podem ser atacadas por fitonematoides, cuja presença nos solos passa, na maioria das vezes, despercebida pelos agricultores devido ao tamanho reduzido que eles possuem e por, geralmente, não apresentarem sintomas muito visíveis nas plantas.

O deslocamento de nematoides no solo é bastante limitado, portanto, sua disseminação é altamente dependente do homem, podendo ocorrer por meio de mudas contaminadas, deslocamento de máquinas de áreas contaminadas para áreas sadias, e por meio de irrigação e/ou água das chuvas.

Geralmente os sintomas da presença de nematoides ocorrem em reboleiras facilmente identificáveis no campo (imagens 1 e 2).

Imagem 1. Sintomas de Pratylenchus brachyurus em lavoura de soja 

Imagem 2. Lavoura de soja com plantas atacadas por Pratylenchus brachyurus

As perdas devidas ao ataque de fitonematoides na agricultura mundial estão estimadas em, aproximadamente, US$100 bilhões/ano. No Brasil, a quantificação de perdas não é precisa, devido principalmente às interações com danos provocados por pragas e outras doenças.

O clima predominantemente tropical do nosso país propicia o encontro de condições de umidade com temperatura ideais para reprodução e alimentação dos nematoides. Estes fatores, associados a uma agricultura intensiva (cultivos sucessivos) e manejos inadequados, constituem pontos-chave para uma explosão populacional destes fitonematoides e, consequentemente, perdas significativas de produtividade.

Em agosto de 2015, o Ministério da Agricultura publicou no Diário Oficial da União a lista de pragas que apresentam os maiores riscos sanitário e fitossanitário para as principais culturas do país nas próximas safras. Estão entre elas:

  • Nematoides de galhas (imagem 3): As espécies mais comuns são Meloidogyne inconita e Meloidogyne javanica. Apesar da grande severidade, estão menos disseminadas em relação aos outros dois tipos.
  • Nematoides das lesões radiculares (imagens 4 e 5): É o mais presente nas regiões de cultivo, principalmente no Cerrado. é uma espécie polífaga (presente em várias culturas) e de grande complexidade para resistência genética. Uma das melhores alternativas de manejo é a sucessão com híbridos com baixo fator de reprodução (FR).
  • Nematoides de cisto da soja (NCS): Espécie com ampla variedade de raças, o que dificulta ainda mais seu manejo. Sua eliminação é quase que impossível. Os três tipos de nematoides citados, estão entre os maiores inimigos do Agronegócio Brasileiro, tendo causado danos e perdas muito significativas nos últimos anos e constituindo motivos de preocupação em termos de manejo para as próximas safras.

Imagem 3. Sistema radicular atacado por Meloidogyne spp.

Imagem 4. Raízes de soja atacadas por Pratylenchus brachyurus

Imagem 5. Sistema radicular atacado por Pratylenchus brachyurus

O controle de fitonematoides é bastante complexo, assim, a combinação de diferentes medidas de controle favorece o manejo mais eficiente da população do patógeno. O agricultor deve ter a consciência de que a erradicação dos nematoides é praticamente impossível, porém, a adoção de práticas associadas pode reduzir populações do patógeno e danos por ele causados.

Controle de nematoides

1. Identificação

O primeiro passo para a realização de um programa de controle eficaz é identificar qual é a espécie predominante na área afetada através de uma amostragem de solo que deverá ser enviada a um laboratório de análises nematológicas qualificado.

Além de se conhecer qual é a espécie, uma amostragem bem feita poderá também informar a quantidade de inóculo presente no local, permitindo assim a criação de um programa de controle de acordo com a necessidade da área.

A melhor época para se amostrar o solo é em torno de 45-50 dias após o plantio, quando a cultura já está estabelecida e os nematoides já completaram seu primeiro ciclo de vida (imagem 6) nas raízes das plantas. 

É importante salientar que, amostras de raízes também deverão ser enviadas junto ao solo para o laboratório. 

Imagem 6. Ciclo de vida de Meloidogyne spp. 

 

2. Resistência genética de plantas

A resistência genética de plantas aos nematoides é um dos métodos mais eficientes e econômicos de se evitar as perdas ocasionadas por estes microrganismos (Roberts, 2002).

A partir do conhecimento prévio da população de nematoides presente na área de cultivo, o agricultor deve escolher e realizar o plantio de genótipos resistentes.

É importante lembrar que apenas a utilização de cultivares e híbridos com baixo fator de reprodução (FR) de nematoides não é suficiente para assegurar resultados satisfatórios da lavoura. A esta prática devem ser adotadas medidas complementares.

No entanto, antes de posicionar uma cultivar com baixo FR, é importante identificar qual a espécie predominante na área. Isto porque, na maioria das vezes, temos cultivares com FR específicos para cada espécie de nematoides, assim, caso seja plantada uma cultivar com resistência a cisto em uma área com galha, o problema irá permanecer, podendo até se agravar.

 

3. Medidas fitossanitárias

A prevenção constitui o princípio mais importante e a melhor linha de defesa para o controle de fitonematoides. Significa impedir a disseminação de campo para campo, de fazenda para fazenda ou de um país para outro.

Neste sentido, a limpeza de equipamentos é de suma importância. Máquinas, implementos e ferramentas devem ser limpos cuidadosamente, depois de serem utilizados em áreas infestadas.

O agricultor consciente deve utilizar suas máquinas e implementos primeiramente em áreas não infestadas para depois utilizá-las em áreas conhecidamente infestadas.

No entanto, devido a grande intensidade das atividades dentro de uma propriedade, essas medidas acabam não sendo realizadas, o que contribui ainda mais para a disseminação das pragas.

 

4. Rotação de culturas

A rotação de culturas é um dos métodos mais recomendados para o manejo de nematoides em culturas anuais ou perenes de ciclo curto.

Se em determinada área é plantada a mesma cultura suscetível ciclo após ciclo, as populações de nematoides que se desenvolvem nesta área tendem a aumentar.

A rotação com plantas não-hospedeiras restringe a multiplicação dos nematoides e, aliada aos fatores naturais de mortalidade, favorece a redução da população do patógeno.

Ao planejar cuidadosamente a sequência de plantas a serem utilizadas em rotação numa área, é possível reduzir a densidade populacional do patógeno abaixo do nível de danos na cultura comercial de maior valor e não promover o aumento da população de outras espécies de nematoides.

 

5. Plantas antagonistas

O uso de plantas antagonistas é um dos métodos culturais mais estudados para o controle de fitonematoides, podendo ser utilizado em sistemas de rotação de culturas em programas de controle de nematoides.

São consideradas plantas antagonistas aquelas que afetam negativamente a população de nematoides, a exemplo de:

  • plantas armadilhas - o nematoide consegue penetrar o sistema radicular, porém, não é capaz de completar seu ciclo de desenvolvimento; 
  • hospedeiras desfavoráveis - há penetração do sistema radicular, porém, poucos nematoides se desenvolvem; 
  • aquelas que contêm compostos nematicidas/nematostáticos em seus tecidos. 

Os benefícios do uso dessas plantas podem ser variados, como não prejudicar os inimigos naturais dos nematoides, favorecendo o aumento de agentes de controle biológico, como por exemplo, a Mucuna deeringiana, o Ricinus communis (mamona), Canavalia ensiformes (feijão de porco) e Secale cereale (centeio).

Algumas espécies utilizadas são capazes de fixar nitrogênio da atmosfera e fornecer ao solo expressivos volumes de matéria orgânica, como é o caso da mucuna-preta, que pode fixar de 120 a 180 kg/ha de nitrogênio da atmosfera.

Espécies de Crotalaria são importantes antagonistas de nematoides, com destaque para a C. spectabilis, que por não ser hospedeira, não permite a multiplicação dos nematoides em esquemas de rotação de culturas.

As gramíneas, utilizadas como forrageiras também podem ser viáveis, pelo fato da pecuária ser uma atividade comum em diversas regiões do Brasil, principalmente no Cerrado.

As gramíneas de maior demanda e mais promissoras para rotação na região do Cerrado, principalmente com leguminosas, são Brachiaria spp., Panicum maximum, Paspalum spp. e Andropogon guayanus. Em diversos experimentos essas espécies demonstraram pronunciado efeito antagonista:

  • inibem a eclosão de juvenis de nematoides;
  • comportamento não-hospedeiro;
  • ação como planta armadilha;
  • não permite que as populações completem seu ciclo de desenvolvimento.

 

6. Adição de matéria orgânica ao solo

A incorporação de matéria orgânica ao solo permite melhorar a estrutura e a fertilidade do solo. Além disso, a adição de determinados materiais ao solo auxilia na redução da população de fitonematoides.

As principais fontes de matéria orgânica utilizadas no manejo de nematoides são:

  • tortas de sementes de oleaginosas - mamona, nim, amendoim, mostarda, algodão, soja, linho e outros;
  • biomassa vegetal - mucuna, repolho, folhas de nim, alfafa, crotalária; 
  • resíduos agroindustriais - resíduos da industrialização de chás, algodão, mandioca, bagaço de cana-de-açúcar, palha de café e de arroz;
  • resíduos de animais - esterco de frango e bovino, rejeitos de limpeza de peixes, farinha de ossos e quitina; 
  • e lixo urbano - detritos e resíduos de tratamento de esgotos.

As populações de fitonematoides podem ser afetadas pelos seguintes mecanismos:

  • liberação de compostos nematicidas preexistentes nos materiais orgânicos;
  • produção de compostos nematicidas, como amônia e ácidos graxos, durante a degradação;
  • introdução e/ou incremento de microrganismos antagonistas;
  • aumento da tolerância e resistência das plantas ao ataque de patógenos;
  • alterações nas propriedades físicas do solo, que são detrimentais ao comportamento do nematoide. 

Provavelmente, a sinergia entre esses mecanismos seja responsável pela ação supressora sobre o patógeno, mais do que o efeito isolado de apenas um deles.

 

7. Controle químico

Os nematicidas químicos apresentavam-se, no passado, como altamente tóxicos, podendo contaminar lençóis freáticos e reduzindo a microbiota antagonista do solo aos nematoides, e por isso foram retirados do mercado. Atualmente, grandes investimentos têm sido realizados para o desenvolvimento de produtos eficazes e seguros ao meio ambiente. Estes produtos, aplicados em tratamento de sementes ou no sulco de plantio, atuam aumentando o vigor das plantas e auxiliando no desenvolvimento de raízes secundárias, conferindo à planta maior tolerância ao ataque do patógeno e sanidade tanto do sistema radicular quanto da parte aérea.

Alguns produtos, com efeito de contato, atuam ainda diretamente sobre os nematoides, interrompendo sua movimentação e, consequentemente, causando sua morte por inanição, já que estes não conseguem penetrar as raízes para dar início ao processo de alimentação.

 

VEJA TAMBÉM: Solução biológica chega ao mercado para ajudar no controle de nematoides

 

8. Controle biológico

Vários organismos são considerados inimigos naturais de fitonematoides, como os nematoides predadores, vírus, ácaros, fungos e bactérias.

Para que um microrganismo seja considerado um bom agente de controle biológico ele deve possuir vários atributos, como por exemplo:

  • não ser patogênico às plantas e aos seres humanos;
  • ser eficiente em reduzir ou suprimir a população de nematoides;
  • ser facilmente e economicamente produzido em massa;
  • permanecer infectivo após longo tempo de armazenamento, etc.

Atualmente, os produtos mais pesquisados e utilizados como bionematicidas são à base de fungos parasitas de ovos e fêmeas, como Paelomyces lilacinus, que é um fungo primariamente saprófita, crescendo em vários substratos presentes no solo. O fungo dissemina-se rapidamente em solos agricultáveis, colonizando os ovos de nematoides após o crescimento micelial na massa de ovos.

A bactéria Pasteuria penetrans, endoparasita, também é utilizada como controle biológico por ser capaz de formar esporos de resistência no solo. Esta bactéria apresenta várias características que a colocam no patamar de agente bacteriano de maior potencial de controle biológico de nematoides, como por exemplo: sobrevivência por longos períodos no solo, resistência ao calor e à dessecação, elevado potencial reprodutivo, inocuidade ao homem e a outros animais, compatibilidade com inúmeros pesticidas e fertilizantes, não é afetada por práticas culturais e não apresenta nenhum inimigo natural descrito até o momento. A multiplicação desse patógeno ocorre in vivo, ou seja, plantas são inoculadas com juvenis de nematoides contendo seus endósporos aderidos, em caso de vegetação. Essa produção é lenta e laboriosa, porém, sabe-se que mesmo densidades baixas de endósporos no solo podem aumentar em condições ideais, ao ponto de tornarem o solo supressivo aos nematoides. 

Outras práticas

A todas as práticas citadas podemos ainda adicionar:

  • a eliminação de camadas compactadas de solo;
  • melhoria do equilíbrio do pH;
  • e a manutenção de bons níveis de potássio.

Importante salientar que a adoção dessas práticas deverá ser realizada de acordo com a necessidade de cada área, da espécie de fitonematoide presente e do seu nível populacional.

Para maiores informações e a criação de um programa de controle de nematoides eficaz, consulte um engenheiro agrônomo de sua confiança. 

Sobre o autor

Renata Souza

Agrônoma formada pela Universidade Federal de Uberlândia, MSC em Fitopatologia - Nematologia pela mesma universidade, com MBA em Agricultural Business Operations (ESALQ/USP), atua há mais de 10 anos como fitopatologista no Programa de Melhoramento Genético de Soja. Possui larga experiência na caracterização fenotípica de linhagens a doenças e suporte ao desenvolvimento de marcadores moleculares. Atualmente é Pesquisadora na Corteva Agriscience™.

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