15/04/2025

Perfilhos no milho: causas e influência na planta principal

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Sorgo: crescimento, desenvolvimento e cuidados com a cultura

Resumo

  • Caso ocorra um perfilhamento substancial em lavouras de milho, é importante verificar a densidade populacional e a distribuição das plantas. Espaçamentos excessivos e populações abaixo do recomendado podem favorecer o desenvolvimento de perfilhos.
  • Diversos estudos indicam que, de forma geral, o perfilhamento não influencia significativamente a produtividade da cultura.
  • Na maioria dos casos, os perfilhos permanecem sombreados pelas folhas da planta principal, o que leva à sua morte precoce por falta de luz. 
  • Perfilhos mais vigorosos, que surgem em áreas com baixa densidade de plantas ou em resposta a danos causados por geada ou granizo, podem formar espigas e, eventualmente, contribuir para o rendimento de grãos.

Introdução

Perfilhos, os colmos adicionais que se desenvolvem a partir de nós subterrâneos da planta principal, são de ocorrência comum em gramíneas. No trigo e em outros grãos miúdos, o perfilhamento é uma fase importante do desenvolvimento, pois permite que a planta ocupe pequenos espaços no estande, aumente o número de espigas e atinja seu pleno potencial produtivo.

Em pastagens e gramados, a formação de perfilhos é essencial para manter a cobertura do estande, considerando os danos inevitáveis causados pelo clima e pelo pisoteio.

No entanto, agricultores frequentemente se preocupam ao observar perfilhos em lavouras de milho. De fato, a influência dos perfilhos do milho sobre a produção de grãos tem sido tema de debate entre produtores há décadas. 

No início dos anos 1900, era comum que alguns agricultores percorressem suas lavouras removendo manualmente os perfilhos assim que surgiam. Acreditava-se que esses colmos secundários competiriam por nutrientes com a planta principal e gerariam apenas espigas malformadas.

Atualmente, com a produção mecanizada de milho, a remoção física dos perfilhos não é mais uma prática viável. Ainda assim, muitos produtores continuam questionando as causas e os efeitos do perfilhamento sobre a produtividade, especialmente quando esse fenômeno ocorre de forma intensa.

Causas do perfilhamento no milho

Perfilhos são ramos laterais que se originam de nós inferiores, localizados abaixo da superfície do solo. Acima do solo, estruturas semelhantes se desenvolvem nas axilas foliares, dando origem às espigas da planta de milho. Embora os perfilhos possam se formar a partir de cada nó subterrâneo, o número efetivamente desenvolvido depende de fatores como densidade populacional e espaçamento entre plantas, níveis de fertilidade do solo, condições de crescimento nas fases iniciais e composição genética do híbrido.

Apesar de alguns híbridos apresentarem maior tendência ao perfilhamento do que outros, plantas de quase todos os híbridos podem se ajustar para aproveitar melhor os nutrientes e a umidade disponíveis no solo, formando um ou mais perfilhos visíveis. Esse comportamento é mais comum em áreas com populações de plantas abaixo do ideal, falhas no estande ou nas bordaduras da lavoura.

O perfilhamento também pode ocorrer de forma significativa quando o ponto de crescimento da planta principal é danificado por granizo, geada, herbicidas ou outros fatores adversos. 

A formação de perfilhos é mais provável quando há alta disponibilidade de nutrientes e umidade nas primeiras semanas de desenvolvimento. Híbridos com forte tendência ao perfilhamento podem formar um ou mais perfilhos por planta, mesmo em populações relativamente altas, se as condições ambientais forem favoráveis nesse estágio inicial.

Imagem 1 - Plantas de milho com perfilho em lavoura comercial | Foto: Hugo Sawaris, março de 2025.
Imagem 1 - Plantas de milho com perfilho em lavoura comercial | Foto: Hugo Sawaris, março de 2025.

 

Pesquisa extensiva: perfilhos não prejudicam a planta principal

Nas primeiras pesquisas sobre o tema, os perfilhos foram removidos da planta principal logo no início do ciclo, e a produtividade dessas plantas foi comparada à de plantas semelhantes que mantiveram seus perfilhos intactos durante todo o desenvolvimento. Nestes estudos preliminares, a remoção dos perfilhos nunca resultou em aumento de produtividade e, em geral, foi observada uma leve redução.

Embora já se soubesse que os perfilhos possuíam sistema radicular próprio, não estava claro se os aumentos de produtividade documentados em lavouras com perfilhamento se deviam ao suporte fisiológico fornecido pelos perfilhos à planta principal ou à produção direta de grãos nas espigas dos próprios perfilhos. Uma terceira hipótese sugere que, na verdade, a queda de rendimento observada nos estudos ocorreu devido ao pequeno dano causado pela remoção dos perfilhos, e não pela ausência deles.

Imagem 2 - Estudo com híbridos Pioneer® mostra diferenças genéticas no perfilhamento | Registros feitos em Jhonston, Iowa, 19 de junho 2015.
Imagem 2 - Estudo com híbridos Pioneer® mostra diferenças genéticas no perfilhamento | Registros feitos em Jhonston, Iowa, 19 de junho 2015.

Posteriormente, foram conduzidos estudos com a remoção seletiva de folhas, a fim de compreender melhor as possíveis trocas de nutrientes entre os perfilhos e a planta principal. Para isso, o milho foi cultivado sob baixa densidade populacional, estimulando a formação de perfilhos grandes em diversas plantas. 

Durante a fase de enchimento de grãos, todas as folhas das plantas principais foram removidas. Metade dessas plantas desfolhadas possuía perfilhos, enquanto a outra metade não. As folhas dos perfilhos foram mantidas intactas. Como resultado, as plantas com perfilhos produziram quase o dobro de grãos em comparação às sem perfilhos, indicando que há uma conexão fisiológica capaz de permitir que os fotoassimilados produzidos nas folhas dos perfilhos sejam translocados para a espiga da planta principal.

Com o avanço das técnicas experimentais, foi possível medir diretamente o movimento de nutrientes dentro da planta. O carbono, elemento-chave na composição de açúcares e proteínas essenciais para o enchimento de grãos, pode ser rastreado com o uso de isótopos radioativos. Ao marcar o dióxido de carbono com radioatividade e permitir que ele seja absorvido por uma folha, os pesquisadores conseguem acompanhar seu deslocamento pelas diferentes partes da planta. A detecção posterior do carbono marcado em órgãos como a espiga indica o caminho percorrido pelo nutriente a partir de sua origem.

Fisiologistas da Universidade de Wisconsin, utilizando essa metodologia, observaram pouco movimento de assimilados entre a planta principal e o perfilho antes do pendoamento. Por outro lado, imediatamente após o embonecamento e durante o enchimento de grãos, quantidades significativas de carbono foram translocadas das folhas de grandes perfilhos sem espigas para a espiga da planta principal.

Entretanto, quando tanto a planta principal quanto os perfilhos apresentavam espigas, quase não havia troca de nutrientes entre eles. Em outras palavras, espigas da planta principal são nutridas por suas próprias folhas, e o mesmo ocorre com os perfilhos. A única situação em que o alimento flui da planta principal para o perfilho é quando este possui espiga e a planta principal, não — uma condição bastante rara no campo.

Esses estudos foram realizados sob baixas populações de plantas, condição que favorece a formação de perfilhos grandes e saudáveis. Em lavouras comerciais, com densidade adequada, os perfilhos geralmente são menores, sombreados e sem espigas, o que indica que exercem pouca ou nenhuma influência sobre a planta principal. Se houver alguma influência, é mais provável que ela seja positiva, contribuindo levemente para o aumento do rendimento de grãos.

Sob baixa densidade populacional, os perfilhos podem ser numerosos e vigorosos. Nesses casos, não apenas não competem por nutrientes durante o enchimento de grãos, como também podem contribuir para a produtividade — seja alimentando a espiga da planta principal, seja produzindo grãos em suas próprias espigas.

Pesquisas no Brasil

Alguns estudos realizados no Brasil demonstram que os perfilhos também podem contribuir positivamente para a produtividade em nossos sistemas de cultivo. Sangoi et al. (2009) verificaram que a remoção dos perfilhos, tanto em alta quanto em baixa densidade populacional — respectivamente, 7 e 4 plantas/m² — resultou em redução do rendimento de grãos em três híbridos avaliados.

Ao analisar separadamente a produtividade dos perfilhos, os pesquisadores constataram que, na média dos três híbridos e das duas populações, os perfilhos produziram 912 kg/ha de grãos. O híbrido 30F53, em particular, apresentou desempenho expressivo, alcançando pouco mais de 2 toneladas de grãos provenientes exclusivamente dos perfilhos, na população mais baixa.

Em outro estudo, o mesmo autor colheu separadamente as espigas dos perfilhos e a segunda espiga formada na planta principal, com o objetivo de avaliar a contribuição de cada uma para a produtividade final. Essa análise foi realizada em três híbridos sob quatro densidades populacionais. No híbrido com maior tendência ao perfilhamento, o 30F53, os perfilhos apresentaram rendimentos de 4.941 kg/ha e 2.712 kg/ha, respectivamente, nas populações de 2,5 e 5 plantas/m².

Clique AQUI para acessar o PDF com o artigo completo. 

Autor: Paul Carter, gerente de ciências agronômicas sênior.

Traduzido e ampliado por: Hugo Sawaris, agrônomo de campo Pioneer®.

Referências

Alofe, C.O., and L.E. Schrader. 1975. Photosynthate translocation in tillered Zea mays following 14CO2 assimilation. Can. J. Plant Sci. 55:407- 414. 

Carter, P. R. 1986. Friend or foe? Do corn tillers help or hurt yields? Crops and Soils 38(4):16-18. 

Nielsen, R.L. 2003. Tillers and “suckers” in corn: good or bad? Purdue Univ. Corny News Network. Available online at http://www.agry.purdue.edu/ext/corn/news/articles.03/Tillers0623.html

Sangoi, L.. et al. Rendimento de grãos de híbridos de milho em duas densidades de plantas com e sem a retirada dos perfilhos. Ciência Rural, Santa Maria, v.39, n.2, p.325-331, 2009.

Sangoi, L.. et al. Perfilhamento e prolificidade como características estabilizadoras no rendimento de grãos de milho, em diferentes densidades. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.9, n.3, p.254-265, 2010.