A mosca-branca é um inseto polífago de ampla distribuição geográfica.
É uma praga de grande importância em diversos ambientes de produção.
Seu ciclo de vida é curto e a velocidade de reprodução é aumentada em ambientes com temperaturas maiores.
Possui dois biótipos com resistência múltipla a inseticidas.
Pode causar danos direto e indireto às culturas. Na cultura da soja, as perdas podem ir de 8 sc/ha até 100%, quando transmite virose.
A mosca-branca (Bemisia tabaci; Hemiptera: Aleyrodidae) é um inseto de ampla distribuição geográfica nas regiões de cultivo do Brasil. O adulto possui entre 1 e 2 milímetros de comprimento, sendo as fêmeas ligeiramente maiores que os machos. Nesta fase, têm dois pares de asas membranosas recobertas por uma substância de coloração branca, originando seu nome popular (Figura 1 A).
Seu ciclo de vida dura cerca de 19 dias a uma temperatura de 32 ºC, podendo se prolongar conforme as temperaturas ficam mais amenas (Figura 2). A oviposição é feita na parte abaxial das folhas. Os ovos possuem formato de pera com coloração amarelada. Após a eclosão, as ninfas de primeiro instar se movem pela folha e, posteriormente, se fixam e sugam a seiva. As ninfas de 2º e 3º instares permanecem fixas se alimentando e desenvolvendo. No 4º instar, conhecido também por “pupa”, são ovaladas e possuem coloração amarelada, bem como olhos vermelhos evidentes (Figura 1B).
Figura 1 – Adulto (A) e ninfas (B) de mosca-branca | Fonte: Embrapa Hortaliças.
A mosca-branca é um inseto polífago, ocorrendo em diversas culturas de interesse comercial no Brasil, com destaque na produção de grãos e fibras, e com grande importância nos cultivos olerícolas. Além da ampla distribuição geográfica, polifagia e rapidez do ciclo de vida, outro ponto que a torna uma praga tão importante nos cultivos é a facilidade de se desenvolver em diversas espécies. Há estudos indicando acima de 500 espécies de plantas hospedeiras - muitas delas plantas daninhas das lavouras, que permanecem durante a entressafra, criando uma ponte verde para o inseto. Nos últimos anos, vem se tornando comum em espécies antes nunca descritas sendo hospedeiras, como é o caso do milho.
Figura 2 – Ciclo de vida da mosca-branca | Fonte: Corteva Agriscience.
Biótipo B “Middle East Asia Minor” (MEAM1)
Este biótipo é o mais amplamente distribuído nas regiões de cultivos do Brasil, possui alta taxa de reprodução, resistência a múltiplos princípios ativos de inseticidas (como carbamatos, piretróides, organofosforados e neonicotinoides) e é também vetor de diversos tipos de viroses, como o Tomato golden mosaic virus (TGMV), Tomato severe rugose virus (ToSRV), Tomato yellow vein streak virus (ToYVSV), Bean golden mosaic virus (BGMV), entre outros.
Biótipo Q “Mediterranean” (MED)
Identificada primeiramente na península Ibérica, no Brasil o primeiro relato ocorreu no Rio Grande do Sul em 2013, posteriormente se espalhando para São Paulo e Minas Gerais em regiões de cultivos de olerícolas e flores. Já se encontra presente em outras regiões agrícolas do país como Mato Grosso e Bahia. É vetor do Tomato yellow leaf curl virus (TYLCV) e Tomato torrado virus (ToTV). Este biótipo tem como diferencial a resistência a inseticidas juvenóides (Figura 3).
Figura 3 – Mapa de distribuição dos biótipos de mosca-branca (em azul Biótipo B, em vermelho Biótipo Q) | Fonte: https://www.fca.unesp.br/#!/pesquisa/gpmb/mapas/
Os danos ocasionados pela mosca-branca na soja podem ser diretos ou indiretos. O dano direto se dá pela sucção da seiva pelas ninfas e adultos, o que acarreta diminuição de assimilados na planta. Caso a infestação ocorra no início do desenvolvimento vegetativo, a cultura apresentará menor porte; quando a infestação ocorre com a planta mais desenvolvida, já no período vegetativo e com as entrelinhas fechadas, haverá redução no peso de grãos. Em ambos os casos, há importante redução da produção.
A transmissão de viroses da soja também é um dano importante caso as populações de mosca-branca estejam com alto índice de infecção. Dentre as viroses, a mais importante é a necrose da haste (CpMMV, gênero Carlavirus) (Figura 4 A e C) que ocasiona perto de 100% de perdas em cultivares suscetíveis.
O dano indireto se dá pela formação de fumagina (Figura 4 B), complexo de fungos que crescem por cima da folha e que tem aspecto de fuligem. Estes fungos usam para seu crescimento o “honeydew”, excreção açucarada do inseto. Quando em alta infestação, tomam por completo a área foliar, o que impede a realização plena da fotossíntese, por consequência diminuindo a produtividade pela falta de fotoassimilados nas plantas.
Figura 4 – A e C: Dano direto (Necrose da Haste - Carlavirus); B: Fumagina | Fonte: Corteva Agriscience (A e B) e Almeida, 2003 (C).
A dinâmica da mosca-branca é um fator importante para que possa ser definida a estratégia de manejo, já que sabe-se que o biótipo B é mais sensível aos inseticidas do que o biótipo Q. Logo, a facilidade de manejo varia conforme o biótipo predominante, sendo o biótipo Q mais difícil de controlar, necessitando de mais robustez no manejo. Onde ambos os biótipos são encontrados, o planejamento deve ser realizado baseado no biótipo Q - por consequência, o controle do biótipo B será efetivo.
O passo seguinte para a eficiência de controle é o monitoramento, dando início ao controle adequadamente.
Devido à reinfestação e à mobilidade deste inseto, o manejo se torna mais difícil, pois o grande problema é atingir o alvo. Para isso, estratégias como volume de calda, horário de aplicação, pontas de pulverização e o uso de inseticidas corretos são a chave para o sucesso do manejo.
Preferencialmente, realizar as aplicações nos horários mais frescos do dia, ou seja, no início da manhã e no final do dia. Nestes horários, os insetos estão com mobilidade mais baixa e será mais fácil atingir o alvo.
O momento de entrada para controle de mosca-branca também é fundamental: quando a aplicação ocorre no início da infestação, o nível de controle chega a quase 100%; porém, quando a aplicação é realizada apenas em cenário crítico, nota-se perda de eficiência do manejo (Figura 5).
Figura 5 – Importância do momento de entrada para controle de mosca-branca | Fonte: Corteva Agriscience.
Em análise de área testemunha, obteve-se dados importantes. A área sem aplicação tinha produtividade de 48,2 sacas por hectare (sc/ha). Com o tratamento 1 (aplicação antecipada), chegou-se à produtividade de 56,4 sc/ha – uma diferença de 8,2 sc/ha. Já com o tratamento 2 (aplicação tardia de inseticidas), a produtividade foi de 51,9 sc/ha. Desta forma, a aplicação antecipada evitou a perda de 4,5 sc/ha em comparação com a aplicação tardia.
Outro ponto importante para o manejo é trabalhar com alto volume de calda de aplicação (Figura 6). O aumento do volume de calda resulta no incremento de controle de mosca-branca. Para a avaliação de 14 dias após a primeira aplicação, houve um incremento de 34,2% de controle entre os extremos de vazão. O mesmo se repete aos 14 dias após a segunda aplicação, onde a diferença de controle entre 50 e 150 L/ha é de 41,1%.
Sabe-se que o volume de calda de 150 L/ha é pouco usual a campo, porém se forem realizadas as aplicações com volume de calda de 100 L/ha, já há uma melhora no controle: de 15,9% aos 14 dias após a primeira aplicação e 27,8% aos 14 dias após a segunda aplicação.
Os dados acima citados mostram que, além do uso de um inseticida eficiente, é necessário se atentar aos demais fatores envolvidos na aplicação para que, assim, possa ser feito um manejo seguro e eficiente de mosca-branca.
Figura 6 – Importância do volume de calda para controle de mosca-branca | Fonte: Corteva Agriscience.
Em condições ideais (temperatura, umidade, presença de hospedeiros e ausência de controle), a população de mosca-branca pode aumentar exponencialmente. Isso ocorre devido à rápida reprodução e falta de controle natural. Diante do exposto, observa-se a dinâmica populacional de mosca-branca quando se faz o uso do manejo adequado, reduzindo consideravelmente o número de indivíduos na próxima geração, facilitando o controle deste alvo na segunda geração (Figura 7).
Como conclusão, destaca-se que o manejo de mosca-branca é dinâmico, sendo necessário “acertar na mosca”: utilizar inseticidas eficientes e específicos para este alvo, atentar-se à tecnologia de aplicação e trazer a biologia da praga a favor do controle.
Figura 7 – Dinâmica populacional em função da aplicação ou não de inseticidas | Fonte: Corteva Agriscience.
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Referências
ALMEIDA, A. M. R et al. Necrose da Haste da Soja. EMBRAPA - Documento 221. 2003.
EMBRAPA. Avanço no Manejo de Mosca-Branca Bemisia tabaci biótipo B (Hemiptera:Aleyrodidae). 2004.
OLIVEIRA, I. Mosca-Branca Bemisia tabaci. Comite de Ação à Resistencia a Inseticidas – IRAC.
Autores: Hugo Sawaris (Agrônomo de Campo Pioneer® Sementes) e Milena Franceschetti (Agrônoma de Campo Crop Protection).