06/01/2025

Percevejos na cultura do milho

Foto: Banco de imagens Pioneer 
Something went wrong. Please try again later...
Percevejos na cultura do milho

Pontos-chave

•       A dificuldade da percepção visual do inseto na lavoura pode induzir ao atraso na tomada de decisão do controle.

•       Danos de percevejos afetam a uniformidade das plantas, resultam em plantas dominadas e perfilhadas, podendo levar à perda da planta.

•       Potencial de perdas de 25% até perda total da produção da planta afetada.

•       A adoção de diferentes estratégias de manejo é fundamental para a redução dos danos e a preservação do potencial produtivo do milho.

Percevejos como inseto-praga

Ao longo dos últimos anos, com a intensificação dos sistemas produtivos, a constante oferta de alimentos, e plantas daninhas servindo como habitat de sobrevivência em períodos de entressafra, tem sido constatado uma crescente nas infestações dos percevejos nas principais culturas agrícolas. Culturas como soja e milho, podem ser severamente impactadas pelos danos destes insetos-pragas, que são capazes de gerar prejuízos entre 25% até perda total da produção.

Na cultura do milho, o período crítico ao ataque dos percevejos vai da emergência (Ve) a cinco folhas expandidas (V5). Devido ao seu hábito de alimentação, próximo à base da planta, e ao seu dorso de coloração escura, que confunde os percevejos com o solo (imagem 1), a visualização e o monitoramento dessas pragas são difíceis, principalmente em horários mais quentes do dia, quando elas tendem a se esconder.

Com o desenvolvimento da planta de milho, as folhas novas se expandem, apresentando os furos alinhados transversalmente, danos característicos que os percevejos causam.


Imagem 1 - Percevejo barriga-verde se alimentando na base da planta de milho | Foto: José Madalóz

Os percevejos se alimentam introduzindo o seu estilete nos tecidos das plantas novas, próximo ao ponto de crescimento e à formação das estruturas reprodutivas (imagem 2). Esta ação pode causar diferentes tipos de danos nas plantas de milho, como:

•       injúria mecânica: devido à perfuração de tecidos;

•       injúria química: pela liberação de substâncias toxicas;

•       desbalanço hormonal: ácido indolacético;

•       ativação do sistema fenol-fenoloxidase da planta (autodefesa): reação de hipersensibilidade, gerando deformações na planta ou órgão atacado.

Estes danos provocam o atraso no desenvolvimento da planta, originando plantas de baixo potencial produtivo. A intoxicação da planta e o dano, se ocorrer no ponto de formação da espiga, resultará em espigas má-formadas. Dependendo da intensidade de danos, pode ocasionar até a morte da planta.


Imagem 2 - Planta de milho em fase inicial de desenvolvimento e corte transversal, com seta vermelha indicando ponto de introdução de estilete do percevejo | Foto: José Madalóz

Espécies que causam danos à cultura do milho

As principais espécies de percevejos que afetam a cultura do milho são o percevejo-barriga-verde (Dichelops melacanthus D. furcatus) e o percevejo-marrom (Euchistus heros). O percevejo-gaúcho (Leptoglossus zonatus), pontualmente provoca danos nos grãos, e o percevejo-raspador (Collaria scenica), ocasiona danos semelhantes à raspagem foliar, mas sem danos econômicos observados na cultura do milho.

Outras espécies, como o percevejo-verde (Nezara viridula), também podem ser observados no milho, mas em menores populações (imagem 3).


Imagem 3A - Percevejo-barriga-verde (Dichelops sp.).


Imagem 3B - Percevejo-marrom (Euchistus heros).


Imagem 3C - Percevejo-gaúcho (Leptoglossus zonatus).


Imagem 3D - Percevejo-raspador (Collaria scenica).


Imagem 3E - Percevejo-verde (Nezara viridula).

Diferenciação dos danos 

•       Percevejo-barriga-verde: ataques ocorrem da emergência até quatro folhas, manifestando danos foliares além da quinta e sexta folha. A perfuração do inseto pode atingir o cartucho, o que pode afetar o ponto de crescimento, causar perfilhamento, folhas deformadas, redução de porte e, até mesmo a morte da planta (Imagem 4 A e B).

•       Percevejo-marrom: seus danos são menos intensos comparados aos do percevejo-barriga-verde, mas também pode apresentar plantas reduzidas e perfurações foliares, resultando no enrolamento de folhas. Essa praga pode ser observada dentro do cartucho, se alimentando nas folhas novas, o que resulta em folhas danificadas e mal-formadas.

•       Percevejo-gaúcho: o dano ocorre na fase de formação de espigas. A praga perfura e suga o conteúdo dos grãos, o que também pode formar uma porta de entrada para umidade e fungos, contribuindo para ocorrência de grãos ardidos (Imagem 4C).

•       Percevejo-raspador: se alimenta do conteúdo das células foliares, e a folha apresenta visual com pequenas raspagens que se destacam em branco no tecido foliar intacto (imagem 4D).


Imagem 4A - Dano foliar (furos transversais a folha) indicando que o momento do dano ocorreu com a planta ainda em fase inicial de desenvolvimento (V2) | Foto: Agronomia Pioneer®.


Imagem 4B - Danos severos com amarelamento das folhas devido à intoxicação | Foto: Agronomia Pioneer®.


Imagem 4C - Danos ocasionados pelo percevejo-gaúcho nos grãos | Foto: Agronomia Pioneer®.


Imagem 4D - Danos foliares causados por percevejo-raspador | Fotos: Agronomia Pioneer®.

Plantas hospedeiras e fluxo de percevejos na lavoura

Além do milho, os percevejos apresentam como hospedeiros a soja, o feijão, o trigo, a aveia, a triticale e as plantas daninhas, como a trapoeraba, o capim-pé-de-galinha e a braquiária.

No outono/inverno, na ausência de culturas hospedeiras, os percevejos da espécie Dichelops sp., apresentam atividade reduzida. Eles se abrigam em matas nativas ou coberturas e restos vegetais. Nesse momento, entram em oligopausa, sobrevivendo até o próximo ciclo de cultivo, quando retomam a atividade com a maior disponibilidade de alimento e as condições favoráveis para desenvolvimento e multiplicação.

Na cultura do milho, a atenção é maior após o inverno. O fluxo inicial de percevejos, mesmo sendo baixo em plantios de final de julho a setembro, exige atenção e controle (imagem 6A). Após alimentação neste milho, os insetos tendem a se movimentar para as lavouras de soja, que se encontram em fase inicial de estabelecimento. Estes primeiros percevejos são observados na soja pouco antes do fechamento das linhas de cultivo, embora tenha se observado no campo o início de ataques de percevejos em soja ainda em fase de emergência nos cotilédones (imagem 5).


Imagem 5 - Ataque de percevejo no cotilédone da soja | Foto: José Madalóz.

Regiões com cultivo do trigo também apresentam ambiente favorável para manutenção do fluxo de insetos, que podem migrar para lavouras de milho vizinhas com plantios que iniciam em agosto e se estendem até outubro.

A soja verão seguida pelo milho safrinha, o alto fluxo populacional de percevejos após o cultivo da soja, às condições climáticas favoráveis e à nova oferta de alimento com estabelecimento inicial da cultura do milho, favorecem o fluxo populacional diretamente no momento crítico da cultura do milho (imagem 6B).



Figura 6 - Dinâmica de fluxo de percevejos no sistema milho/soja verão (A) e soja/milho safrinha (B) | Fonte: imagens adaptadas de Toledo et, al. (2021).

Potencial de perdas 

A produtividade do milho pode ser comprometida de 15% até a perda total com a ação dos percevejos. Isso se deve à caraterística dos danos, que podem ser mecânicos (perfuração) até a intoxicação, afetando o desenvolvimento, e podendo causar a perda total da planta.

Um trabalho conduzido a campo (figura 7) com a marcação das plantas em quatro categorias de dano (ausente, leve, médio e severo), constatou, na colheita, perdas médias de 15% a 91% do potencial produtivo das plantas sintomáticas.


Figura 7 - Avaliação a campo de plantas de milho com diferentes níveis de dano de percevejo | Fonte: Agronomia Pioneer®.

Estratégias de manejo

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é de extrema importância, uma vez que o percevejo é um inseto de difícil controle e é altamente recomendado atuar de forma preventiva aos danos. Quando constatados os danos visuais nas plantas, as perdas já estão estabelecidas, e as medidas de controle terão eficiência baixa ou nula. 

Principais ações a serem adotadas: 

•       dessecação antecipada, no mínimo 30 dias antes do plantio, eliminando as plantas hospedeiras;

•       monitoramento dos insetos, que deve iniciar antes da dessecação indo até V5. É recomendada a aplicação quando encontrado 1 percevejo vivo para cada 10 plantas;

•       uso de inseticidas na dessecação e pré-plantio como ferramenta de controle populacional. E, principalmente, durante o período crítico da cultura, de Ve a V5. Inseticidas que combinem diferentes modos de ação (neonicotinoide + piretróide) oferecem maior residual e controle;

•       adoção de tratamento de sementes (TS) com inseticidas específicos para o controle de insetos sugadores, como o presente no tratamento de sementes industrial LumiGEN®;

•       no sistema soja/milho safrinha deve-se ter atenção ao final do ciclo da soja, pois nesse período há tendência para elevadas populações de percevejos. Esse cenário exige manejo para redução populacional e atenção ao manejo no milho safrinha subsequente.

A adoção de diferentes estratégias de manejo é fundamental para a redução dos danos e a preservação do potencial produtivo do milho. O uso de TSI combinado com a aplicação de inseticidas em pós-emergência no início do estabelecimento da cultura (V1) tem se mostrado uma excelente estratégia de manejo (imagem 7). Conforme pressão do inseto, aplicações sequenciais poderão ser necessárias.


Figura 8 - Diferentes estratégias de manejo de percevejo em milho, com uso de TSI e complemento com inseticida via aéreo em diferentes estágios em dois locais | Fonte: Agronomia Pioneer®.

Clique aqui para baixar o PDF completo.

Referências

Waquil, M., J. Viana, A., P. Cruz, I. Manejo integrado de Pragas. 2021.

Polleto, J., E., Chiaradia, A., L. Danos e manejo percevejos raspador das pastagens. 2012.

Toledo, T. de L.; Madaloz, J. C. M.; Ribeiro, L. P.; Subsídios para o manejo de percevejos na fase inicial da cultura do milho. Informativo Técnico Epagri, 2021. https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/RAC/article/view/755

Autores: Marcos Figueiredo, Jorge Apestegui e Thiago Prado (agrônomos de campo Pioneer® Sementes).